Um pouco antes das seis da tarde o auto- falante da igreja matriz era ligado e depois de alguns chiados tocava a “Ave Maria de Gounod “...Terminada a música, uma pequena pausa e então surgia a voz firme com forte sotaque alemão do velho padre:
“CARÍSSIMOS IRMÃOS....BOA NOITE..
LOGO MAIS AS SETE HORAS TEREMOS O TERÇO
E DOMINGO AS 9 HORAS A SANTA MISSA EM JAPONÊS E DEPOIS AS 11 HORAS A MISSA EM PORTUGUÊS. “
E então ele cantava sem acompanhamento nenhum de forma afinada e firme:
“A NÓS DESCEI DIVINA LUZ...
A NÓS DESCEI DIVINA LUZ....
E EM NOSSAS ALMAS ASCENDEI...
O AMOR...O AMOR DE JESUS...
O AMOR...O AMOR DE JESUS.”
Entâo desligava-se o auto-falante e a vida continuava.
Assim eram os finais de tarde na pacata Tapiraí dos anos 60 e início da década de 70.
Nunca fui uma pessoa muito religiosa. Tenho uma fé interior que me move e me encoraja a cada dia que nasce na busca eterna de ser feliz. Porém os resquícios de religião que habitam minha mente , tenho certeza que resultam daqueles finais de tarde na companhia de meu pai, minha mãe e de meus irmãos no nosso modesto comércio em frente ao Posto Aoki.
Até hoje , pelo menos uma vez por ano, costumo viajar até a cidade de Aparecida, sede do catolicismo brasileiro . Não sei bem a causa disso, mas sinto lá uma atmosfera de paz e felicidade intensa. Talvez fruto de uma devoção pela mãe de Jesus Cristo. Porém para mim, a imagem que permanece não é de Nossa Senhora da Conceição, nem de Nossa Senhora de Fátima, ou Nossa Senhora Aparecida. Minha devoção verdadeira e pela “AVE MARIA DO PADRE GUILHERME DE TAPIRAÍ.”
Belo depoimento. Lembro muito dessa Tapiraí a que você se refere.
ResponderExcluirTudo naquele tempo era mágico, ou era a infância embalando as impressões que vertem de uma localidade dominada pela absoluta pureza ambiental ?
Acredito que a resposta está nas duas posições.
O Padre Guilherme Hoovel é uma personalidade marcante para Tapiraí, e isso deu à cidade muito da sua identidade, o que avalisa a sua "Ave Maria do Padre Guilherme de Tapiraí", sem dúvida.