Era o início da década de 70 em Tapiraí. O ano não sei explicitar com exatidão, nem quem era o prefeito da cidade (Chico ou Anthemo), porém me lembro bem que a TV Globo exibia a novela “Irmãos Coragem” , que todo mundo acompanhava sem perder um capítulo. O País ainda vivia sob regime militar e o presidente era o General Médici. A energia elétrica em Tapiraí era produzida por um gerador movido a óleo diesel que era acionado as 6 da tarde e desligado as 11 da noite. Em Tapiraí haviam apenas uns três aparelhos de televisão : no bar do Zeca, no hotel Santo Antonio e na casa do policial Diogenes que ficava onde hoje é a praça.
O Bar do Zeca era um referencial em Tapiraí. Ali paravam os ônibus e havia o famoso churrasquinho com queijo ou toucinho que todo mundo gostava. Dentre outros funcionários, trabalhava com o Zeca um cearense baixinho e simpático cujo nome de batismo não sei explicitar, porém que todo o mundo conhecia como JOCA. O Joca era viúvo e tinha um filho chamado Anísio que também trabalhava no bar do Zeca e uma filha adotiva cujo nome não me lembro. Joca Sempre foi um bom sujeito, agradável e por isso mesmo conhecido e benquisto por todos. Mas eis que um dia o Joca desapareceu. Ninguém sabia dizer para onde havia ido: nem os filhos, nem o patrão, nem os colegas de trabalho. Desapareceu sem mais nem menos.
Passaram-se dias, semanas e nada do Joca aparecer. O assunto há muito, já havia virado o principal da cidade. Ninguém falava em mais nada, a não ser no sumiço do Joca. De vez em quando surgia o boato de que ele estava em determinado lugar. Todo mundo corria para lá, mas nada de encontrá-lo. Porém numa tarde ensolarada de um dia de semana, O Jacob (meu cunhado e pai do Gilson contador e do Gilmar que trabalha no Bradesco) roçava o pasto do meu pai (Paulo Cavalcante Maglhães), quando de repente o Joca apareceu saindo do meio da mata fechada. Estava com a barba crescida, as faces abatidas, as roupas sujas e rasgadas e trazia o chapéu de palha na cabeça. O Jacob assustou-se com ele, porém logo o reconheceu. Ele aproximou-se do Jacob e disse que estava com muita fome. Tirou do bolso algum dinheiro e pediu ao Jacob que viesse a cidade e comprasse alguns pacotes de bolacha salgada. Jacob questionou o porque dele ter sumido , mas ele respondeu que não poderia voltar, porque estava sendo perseguido e precisava permanecer escondido na mata. Jacob correu para a cidade e contou o fato ao meu pai e ao Zeca. Todo mundo correu para o sítio do meu pai, que ficava na estradinha que segue onde hoje está o bar do Silvio (ali não havia casa alguma, era tudo mata fechada). Porém triste decepção. Ao chegar no sítio ela já havia sumido novamente. Por vários dias se intensificou a procura pela mata próxima dali, mas nada de encontrá-lo.
Passados atualmente quase quarenta anos desse fato , a verdade é que o Joca nunca mais apreceu nem vivo, nem morto. O filho e a filha mudaram-se daqui , não sei exatamente para onde. O meu pai e o Zeca já faleceram há muitos anos, e o Jacob está com aproximadamente 70 anos e ainda mora em Tapiraí.
Esta foi uma das estórias que marcaram a minha infância e a de todos que moravam por aqui na época. Recentemente o Luiz Braga comentou o fato na comunidade do Orkut “Tapirai” . Considero que foi um fato curioso da nossa história e por isso o estou detalhando aqui.
Porque o amigo JOCA sumiu, ninguém saberá jamais. Morreremos sem saber do seu destino.
Muito estranho amigo
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