Dona Jovina em fotografia de 1990 |
Dona Jovina Ferreira Magalhães, minha mãe nasceu no Ceará e
veio para Tapiraí no inicio dos anos 40, com meu pai e mais 3 filhos pequenos.
A viagem durou mais de um mês e foi feita sobre a carroceria de caminhão
(pau-de-arara), e em certo trecho pelo Rio São Francisco por uma embarcação
rude e insegura. Vieram para Tapiraí porque aqui já morava a família de um
parente , o Zé Ribeiro. Foram morar no bairro da Água Doce, primeiro na estrada que dá acesso ao
Alecrim e depois a beira da rodovia, um quilometro além de onde até hoje mora a
Bruna e o CIdo. Viveu na Agua Doce até 1968, quando meu pai adquiriu um Armazém
em Tapiraí e nos mudamos para a cidade. Já éramos então 11 filhos.
Do Boiadeiro, não
sei o nome. Ele apareceu em Tapiraí no início dos anos 80. Segundo se
comentava ele era funcionário de um circo que se armou por aqui e conheceu uma
tapiraiense pela qual se apaixonou . Quando o circo foi-se embora, resolveu
ficar por aqui. Por algum tempo viveu com a moça , porém com a bebedeira e a
vida boêmia, acabou sozinho, sem parentes e sem ninguém e virou um morador de
rua de Tapiraí. Dormia em um barraco nos fundos de onde hoje é o Centro
Cultural. Nessa época minha mãe já estava
com os filhos criados e sem meu pai que infelizmente faleceu muito novo. Minha
mãe morava nos fundos do Armazém agora tocado pelos meus irmãosi (em frente ao
posto Aoki).
Eis que num belo dia o Boiadeiro, bateu a porta de minha mãe
e pediu um prato de comida. Minha mãe prontamente lhe serviu. Ele sentou-se a
beira da casa em um banco de madeira e ali almoçou. Daquele dia em diante,
virou “freguês” assíduo de minha mãe. Virava e mexia La estava ele a janela de
minha mãe pedindo um prato de comida, que minha mãe jamais negou.
Em 1991, minha mãe faleceu aos 77 anos. O Boiadeiro nesta
época devia ter uns 40 anos. Estávamos todos tristes com a morte de minha mãe,
porém conformados diante do fato de ela ter vivido de uma forma feliz a sua
maneira, criando seus filhos e sendo
sempre amável , calma e muito religiosa, sem nunca discutir com ninguém.
Mas eis que chega ao velório de minha mãe o Boiadeiro em prantos...,
aproximou-se do esquife e pronunciou as seguintes palavras em voz trêmula: “ E
agora..., quem é que vai me dar um prato de comida?”.
A cena comoveu a todos os presentes. Passados alguns anos, o
Boiadeiro morreu atropelado por um veículo na madrugada de Tapiraí . Ninguém
viu qual era o caminhão e nem quem era o motorista.Talvez pela humildade da
pessoa do Boiadeiro, e por estar sempre bêbado, nem sequer se investigou quem
foi o assassino.
Estou narrando esta estória, porque ela faz parte da minha
vida . O episódio do velório da minha mãe foi como que uma encomenda do além
para nos mostrar o quanto minha mãe , na simplicidade do seu gesto tinha a
ensinar a nós todos , seus filhos , netos e bisnetos.
Que todos tenham um velório como o de minha mãe!
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