Zé Cavalcante-foto anos 70 |
José Ferreira Cavalcante era meu irmão. Era dois anos mais
velho que eu, porém crescemos juntos e
frequentamos a mesma escola até os 11 anos. Nesta idade em que completamos a 4ª
série do primário, ele quis parar de estudar. Naquela época em Tapiraí, só
havia o grupo escolar no qual se completava no máximo a 4ª série, e a educação
se divida em Primário, Ginásio, Colegial e Superior. Portanto,
quem quisesse cursar o ginásio tinha que viajar a Piedade todos os dias.
E naquela época não havia nenhuma ajuda governamental para isto. Eram os pais
que tinham que arcar com as despesas de transporte, numa estrada de terra e mal
conservada, em que se levava 90 minutos para percorrer os 38 km. Pior que isto,
as escolas não ofereciam merenda, e tínhamos que levar dinheiro para o lanche.
Assim, naquela época só os mais abastados estudavam além do primário. Apesar da
disponibilidade de meu pai em bancar nossos estudos, o Zé, que era como
chamávamos meu irmão, não quis continuar estudando. Então passei a estudar
sozinho em Piedade enquanto ele permanecia
em Tapiraí, ajudando no comércio e nos trabalhos do sítio, onde criávamos gado.
Somente uns 5 anos mais tarde, quando instalou-se em tapiraí o curso ginasial, foi que ele resolveu frequentá-lo concluindo além
deste o colegial.
Pois bem, o Zé sempre foi um cara inteligente, que obtinha
boas notas na escola, porém tinha uma personalidade
voltada para o comodismo, sem muita gana de lutar , o que acabava
colocando-o em situações de grande aperto.. Assim contentava-se com uma vida
simples, sem muita responsabilidade e com poucos olhos para as consequências da
sua falta de atitudes. Assim sua vida foi pautada por acontecimentos que
flutuaram entre a comédia e o drama, sempre ligados a sua falta de cuidados.
São algumas destas estórias que eu quero aqui contar-lhes.
De certa feita, o Zé resolveu montar um time de futebol .
Para tanto convidou alguns amigos e sem qualquer treino ou providência maior o
time estava formado. Marcou-se então o primeiro jogo amistoso para a cidade de
Juquiá, para onde rumaram os atletas, alguns de caminhão e outros no carro do
Zé que era um Maverick verde . Pois bem , tudo corria bem até o momento da
volta. Ai, o caminhão seguiu na frente e o Zé saiu um pouco mais tarde. Durante
o percurso, furou um pneu do Maverick. Quando foram trocá-lo perceberam que o estepe
também estava furado. Só então o Zé
lembrou-se que havia esquecido de mandar
consertá-lo. Precisaram amanhecer na estrada, até que conseguissem uma carona
na segunda-feira...
Mas este mesmo
Maverick , foi o astro de outros acontecimentos. De certa feita quando
percorria o “descidão” do Turvo, a tampa do capô se abriu e tapou a visão d o
Zé que perdeu o controle do veículo que chocou-se contra o barranco.
Depois do Maverick ,
o carro do Zé foi um VW TL azul. Deste me lembro que , de certa feita, o Zé voltava
de uma viagem a praia , quando furou um dos pneus. Na época o Zé gozava de prestígio junto a mulherada, e o carro estava
lotado de garotas. Ele era o único homem. Prontamente o Zé se pôs na tarefa de
tentar trocar o pneu, porém não conseguia nunca posicionar o macaco. Foram
infinitas tentativas, até que um pedestre passasse pela estrada e indicasse que ele estava tentando posicionar o macaco de
ponta-cabeça...Este mesmo TL foi
destruído após um choque com os trilhos de uma estrada de ferro em Sorocaba,
quando o Zé tentava ensinar uma namorada à dirigir.
Além do Maverick e do TL, o Zé foi dono de um Opala amarelo,
o qual teve os 4 pneus roubados numa madrugada em que ele largou o carro na
estrada porque quebrou.
Um pouco mais velho, já casado, o Zé prestou concurso
público na polícia civil e foi trabalhar de carcereiro na cadeia de Piedade.
Tornou-se muito querido pelos presos, mesmo porque foi no seu período de
trabalho que ocorreram ali as maiores fugas. Provavelmente por alguns descuidos do Zé.
Mas a estória do Zé teve um trágico fim. Morreu aso 50 anos,
com dois tiros nas costas. A polícia até hoje não esclareceu o crime e ninguém
foi punido por isto. Mais um descuido na trajetória da vida do meu irmão Zé.
Resta contar um último detalhe : o Zé nunca tirou carteira
de motorista.
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