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quinta-feira, 9 de maio de 2013

ZÉ CAVALCANTE -ESTÓRIAS DO MEU IRMÃO

Zé Cavalcante-foto anos 70  

José Ferreira Cavalcante era meu irmão. Era dois anos mais velho que eu, porém crescemos juntos  e frequentamos a mesma escola até os 11 anos. Nesta idade em que completamos a 4ª série do primário, ele quis parar de estudar. Naquela época em Tapiraí, só havia o grupo escolar no qual se completava no máximo a 4ª série, e a educação se divida em Primário, Ginásio, Colegial e Superior.  Portanto,  quem quisesse cursar o ginásio tinha que viajar a Piedade todos os dias. E naquela época não havia nenhuma ajuda governamental para isto. Eram os pais que tinham que arcar com as despesas de transporte, numa estrada de terra e mal conservada, em que se levava 90 minutos para percorrer os 38 km. Pior que isto, as escolas não ofereciam merenda, e tínhamos que levar dinheiro para o lanche. Assim, naquela época só os mais abastados estudavam além do primário. Apesar da disponibilidade de meu pai em bancar nossos estudos, o Zé, que era como chamávamos meu irmão, não quis continuar estudando. Então passei a estudar sozinho em Piedade enquanto  ele permanecia em Tapiraí, ajudando no comércio e nos trabalhos do sítio, onde criávamos gado. Somente uns 5 anos mais tarde, quando instalou-se em tapiraí  o curso ginasial, foi  que ele resolveu frequentá-lo concluindo além deste o colegial.
Pois bem, o Zé sempre foi um cara inteligente, que obtinha boas notas na escola, porém tinha uma  personalidade  voltada para o comodismo, sem muita gana de lutar , o que acabava colocando-o em situações de grande aperto.. Assim contentava-se com uma vida simples, sem muita responsabilidade e com poucos olhos para as consequências da sua falta de atitudes. Assim sua vida foi pautada por acontecimentos que flutuaram entre a comédia e o drama, sempre ligados a sua falta de cuidados. São algumas destas estórias que eu quero aqui contar-lhes.
De certa feita, o Zé resolveu montar um time de futebol . Para tanto convidou alguns amigos e sem qualquer treino ou providência maior o time estava formado. Marcou-se então o primeiro jogo amistoso para a cidade de Juquiá, para onde rumaram os atletas, alguns de caminhão e outros no carro do Zé que era um Maverick verde . Pois bem , tudo corria bem até o momento da volta. Ai, o caminhão seguiu na frente e o Zé saiu um pouco mais tarde. Durante o percurso, furou um pneu do Maverick. Quando foram trocá-lo perceberam que o estepe também  estava furado. Só então o Zé lembrou-se que havia  esquecido de mandar consertá-lo. Precisaram amanhecer na estrada, até que conseguissem uma carona na segunda-feira...
Mas  este mesmo Maverick , foi o astro de outros acontecimentos. De certa feita quando percorria o “descidão” do Turvo, a tampa do capô se abriu e tapou a visão d o Zé que perdeu o controle do veículo que chocou-se contra o barranco.
Depois do  Maverick , o carro do Zé foi um VW TL azul. Deste me lembro que , de certa feita, o Zé voltava de uma viagem a praia , quando furou um dos pneus. Na época o Zé gozava  de prestígio junto a mulherada, e o carro estava lotado de garotas. Ele era o único  homem. Prontamente o Zé se pôs na tarefa de tentar trocar o pneu, porém não conseguia nunca posicionar o macaco. Foram infinitas tentativas, até que um pedestre passasse pela estrada e indicasse  que ele estava tentando posicionar o macaco de ponta-cabeça...Este mesmo TL foi  destruído após um choque com os trilhos de uma estrada de ferro em Sorocaba, quando o Zé tentava ensinar uma namorada à dirigir.
Além do Maverick e do TL, o Zé foi dono de um Opala amarelo, o qual teve os 4 pneus roubados numa madrugada em que ele largou o carro na estrada porque quebrou.
Um pouco mais velho, já casado, o Zé prestou concurso público na polícia civil e foi trabalhar de carcereiro na cadeia de Piedade. Tornou-se muito querido pelos presos, mesmo porque foi no seu período de trabalho que ocorreram ali as maiores fugas. Provavelmente por alguns descuidos do Zé.
Mas a estória do Zé teve um trágico fim. Morreu aso 50 anos, com dois tiros nas costas. A polícia até hoje não esclareceu o crime e ninguém foi punido por isto. Mais um descuido na trajetória da vida do meu irmão Zé.
Resta contar um último detalhe : o Zé nunca tirou carteira de motorista.

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