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domingo, 26 de maio de 2013

A ESCOLA PÚBLICA PAROU NO TEMPO

                                                                                                                 
Trabalhei quase trinta anos em indústrias e agora estou professor. Digo estou porque o verbo  ” ser” dá uma idéia de longo prazo e na realidade meu contrato com a Secretaria Estadual da Educação só vai até 23 de dezembro. Depois disso não sei quais ventos me conduzirão e nem a qual destino.
Optei em transferir-me de um cenário de grandes transformações para um cenário a meu ver mais calmo e importante, embora mal remunerado, acreditando sinceramente que atuar no magistério pudesse contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas da região na qual nasci .
No entanto, algo gritante tem me chamado a atenção nessa nova atividade: a grande defasagem entre o tempo atual e o ponto em que se encontra a escola pública paulista. Isto pode ser visualizado comparando a escola pública paulista com a indústria, seja ela brasileira ou transnacional.
Tomaremos a situação apenas sobre alguns aspectos : Tecnologia, Relações Humanas, Sistema de Gestão e  Conteúdo .
Em termos de Tecnologia, a escola de hoje é quase a mesma de 30 anos atrás, senão vejamos. Ainda se usa giz , lousa e apagador. O controle de freqüência ainda é feito no Diário de Classe, o mesmo dos meus tempos de ginásio (tenho 54 anos de idade) , no qual o professor usa uma caneta e preenche cada quadradinho de uma folha quadriculada a cada aula para cada aluno. O controle de notas também continua da mesma forma, embora agora tenha alguns diferenciais: ninguém pode ser reprovado, pois isso significa menores bônus para  professores,coordenadores e diretores .Também existe agora um retrabalho de digitação para alimentar o sistema geral da secretaria estadual ,que de fato é o que vale (embora com infinitos erros gerados pela multiplicidade de meios geradores da mesma informação ) Cabe salientar que nos tempos remotos não havia bônus e só passava quem de fato tinha aprendido.
Na indústria de hoje os controles são todos informatizados. É cômico imaginar uma fábrica moderna controlando o ponto de seus funcionários manualmente e com todo o retrabalho que se vê na escola. Controle do professor,controle da secretaria, controle do sistema, controle do coordenador, etc...
Os conservadores de plantão hão de argumentar prontamente que faltam verbas para investir nas modernas tecnologias, o que não é verdade. O que na realidade falta é visão de quem administra estas verbas. A informatização de uma escola custaria muito pouco e se pagaria rapidamente . Imaginem uma roleta na entrada da escola, em que funcionários, alunos e professores passariam os seus crachás e automaticamente fossem registradas suas presenças, alimentando em tempo real,  os sistemas de informações, gerando as folhas de pagamento , os controles de freqüência dos alunos e muitas outras informações. Quantas horas de trabalho burocrático dos professores e das secretarias abarrotadas de gente seriam economizadas. A instalação de câmeras em pontos estratégicos também poderiam reduzir a necessidade de inspetores além de melhorarem a qualidade do serviço . A utilização de lousas digitais agilizariam o processo de apresentação dos conteúdos ,facilitariam a aprendizagem e eliminariam as improdutivas aulas de reforço realizadas nos refeitórios e nos pátios por falta de salas.
Com relação a defasagem tecnológica, talvez também valha a pena comentar que as salas de informática instaladas nas escolas já há alguns anos não ajudam em quase nada na aprendizagem. Primeiro, porque muitas delas não funcionam por falta de manutenção, e também em virtude do despreparo dos professores para o seu uso. A verdade é que ao contrário da indústria na qual os conhecimentos de informática são indispensáveis, na escola pouquíssimos professores sabem operar computadores.
Focando as Relações Humanas, embora devesse ser a escola o principal centro de referência, gerando padrões de conduta para a sociedade, o que se vê  são políticas antigas e inadequadas a realidade atual . Em vez de fortalecer as relações pessoais baseadas na inteligência emocional e no trabalho de equipe ,o que se vê é um individualismo exagerado em que cada um quer fazer da sua maneira, não havendo interação entre as pessoas e nem se acatando sugestões de melhoria dos métodos. Assim sendo, não  ocorre a formação de um time coeso e produtivo. O que se vê são condutas protecionistas de acordo com as “panelas” formadas por grupos que vão surgindo naturalmente de acordo com as semelhanças de caráter. Isso prevalece inclusive nas atribuições de aulas pelos diretores.
Sei que os defensores dos métodos atuais hão de dizer que hoje os alunos têm liberdade e que o professor não é mais o ditador autoritário de antes. Concordo com isso e que de fato a democracia é melhor que a ditadura, porém ainda faltam controles e parâmetros de conduta para todos os envolvidos . A verdade é que cada um faz do jeito que quer.
Enquanto na Gestão Moderna das Empresas, se multiplicam e sofisticam cada vez mais os Sistemas de Qualidade com métodos simples, enxutos e organizados que garantem a qualidade dos produtos ou serviços, na escola estes não existem. A abordagem dos problemas é quase sempre errônea, sem investigação das causas. Com isso as soluções não passam de “eliminação de incêndio”, e com certeza eles voltarão a acontecer. Faltam ações corretivas e preventivas para que os problemas não mais ocorram. Cabe salientar que isto é válido para tudo que envolve a escola: a disciplina dos alunos, a conduta dos professores e funcionários  a manutenção dos equipamentos etc . A “gambiarra” impera na escola.
Completando esta análise comparativa vamos falar dos conteúdos dos currículos, daquilo que se ensina na escola. Também existe uma distância grande entre o que a escola passa e o que de fato se utiliza na vida prática. Nas aulas de matemática, por exemplo, se aprende sobre tabelas logarítimas e leis trigonométricas, porém ninguém sai da escola sabendo controlar os próprios gastos. O brasileiro médio não sabe poupar e nem mesmo gastar menos do que ganha. Vive endividado, com o saldo do cartão de crédito, do cheque especial ou da conta da mercearia sempre estourado. Nas aulas de geografia ele aprende sobre os continentes, porém mal sabe consultar um mapa ou seguir um guia. Nas aulas de língua portuguesa aprendem sobre literatura clássica porém poucos conseguem identificar as características meramente comercias das novelas da televisão . Enfim falta ao conteúdo ensinado na escola uma equiparação ao sistema de vida atual em que a tecnologia e a comunicação imperam.

Assim sendo, resta-nos concluir que é necessária uma revolução geral na educação. Um choque de modernidade nas instalações, nos sistemas e principalmente nas pessoas que  trabalham nesse meio.  É preciso sair do meio comum e interagir com os outros setores e com as comunidades internacionais, mesmo porque na educação perdemos até mesmo apara nossos vizinhos sul-americanos. Enfim está na hora de sair dessa toca.

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