Desde que voltei a morar em cidade pequena, tenho visto
estórias bonitas e feias por aqui. Algumas merecem registro. E esta é bonita e
recente.
O velho Tibagir todo dia ia buscar pão. Antes do
supermercado abrir, ele já caminhava com dificuldades com sua bengalinha,
atravessava a avenida que também é rodovia e seguia pela ruazinha que beira o
riacho. Passava pelas escolas em meio a criançada e ficava em pé ao lado da
igreja, lateralmente ao supermercado. Ali ele esperava o Chiquinho ou o César
chegar e abrir o supermercado. Então dirigia-se suavemente pela rampa e
aguardava que as moças lhe trouxessem os pães. Religiosamente, chovesse,
garoasse ou com sol , isto acontecia.
Por aqui ainda se compra fiado. E não é fiado com cartão de
crédito, nem cheque pré-datado, nem boleto bancário. É fiado daquele marcado no
caderninho, cuja garantia única é a confiança. E inacreditavelmente não se
perde muito. As pessoas em sua grande maioria pagam religiosamente suas contas
. E o velho Tibagir era assim.
Mas na última semana a cena não se repetiu. O velho Tibagir
não mais apareceu. A triste notícia deu conta de que ele faleceu em Curitiba
após uma longa viagem para assistir um casamento. Diante do fato ,alguns
comentaram : a última aposentadoria deveria ser recebida por alguém para quitar
as contas. Mas diante do comentário a resposta do Chiquinho foi breve: “a conta
dele já foi quitada...não recebo contas de quem já morreu...é uma lição antiga
que aprendi com meu avô.” . E os olhos se encheram de lágrimas....
Isto contado pela minha mulher também emocionada, me fez chorar...Talvez porque o avô do
Chiquinho era meu pai que morreu antes mesmo dele nascer...
As lições do meu pai ficaram, e as estórias bonitas ainda
acontecem por aqui. A vida é mesmo bela!
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