Morávamos no bairro da água doce no início da década de 60. Tinha eu por volta de 7 anos mas me lembro bem desta estória. Morávamos numa casa a beira da estrada e meu pai possuía um sítio há uns 3 km dali , onde a gente chegava pela “estrada do pau seco”.
Criávamos pato, peru, galinha, porco, cabrito, gado , cavalo, etc e meu pai tinha como principal fonte de renda a extração de madeira, a fabricação de carvão vegetal e a extração de palmito. Meu pai tinha vários camaradas , como se chamava na época os trabalhadores, que o ajudavam na lida do sítio.
Um dos camaradas de meu pai chamava-se “Zé Gerônimo”. Era um homem de uma certa idade, solteiro sem nenhum familiar por perto. Vivia sempre com os cabelos e barba compridos e vestia-se com paletós escuros, que lhe davam um ar misterioso. Eu e meu irmão José Cavalcante que éramos os mais novos da nossa família tínhamos um certo mêdo deste homem, porém sabíamos que era um homem bom que nos tratava sempre com carinho. Meu pai também nutria grande simpatia pelo velho que sempre dizia ser de confiança e um bom trabalhador, apesar da idade avançada.
Zé Gerônimo vinha até a nossa venda e fazia suas comprinhas: comida , querosene e pinga. Eram as necessidades básicas da época no sertão bravo sem asfalto, sem telefone, sem energia elétrica, sem rádio, sem televisão...Esta era a vida da época.
Mas numa bela manhã, acordamos e tivemos uma surpresa. Zé Gerônimo estava barbeado, com os cabelos cortados e bem vestido, sentado na calçada da venda. Meu pai prontamente foi perguntar do que se tratava e ele falou que estava se sentindo mal e precisava ir ao médico.
Meu pai deu-lhe então o dinheiro para que ele pegasse o ônibus, (eram apenas dois por dia), para ir à Piedade no médico. E lá se foi Zé Gerônimo. Passaram-se alguns dias e nada dele voltar. Meu pai foi então até Piedade buscar informações sobre o velho bom camarada. No final do dia voltou com a triste notícia: Zé Gerônimo havia morrido.
Por longos meses fiquei entristecido e medroso diante da sua repentina morte. Nunca o vi tão bem vestido e bonito como naquele dia em que partia para sua última missão. E La se ia mais um dos personagens da minha infância.
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