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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

MINHA NOITE NA UTI

Santa casa de Piracicaba
Dia 23 de maio de 2007. Morava eu em Piracicaba e todas as manhãs dirigia-me ao trabalho, às vezes de carro, às vezes de ônibus. Do Jardim Elite  ao Algodoal era aproximadamente meia hora de viagem. Cheguei ao trabalho, vários problemas a resolver, o telefone tocando infinitamente, clientes querendo seus pedidos, eu acionando a fábrica na busca de soluções. De repente uma forte dor no peito. Subo as escadas com dificuldades e sento a minha cadeira. A dor desce pelo braço direito. Sintoma detectado. Estava enfartando.
Peço socorro ao homem dos transportes, mas não tem nenhum carro disponível na fábrica. Peço ao colega do lado para me levar até minha casa. Ele prontamente me leva e no caminho a dor vai apertando, a vista escurece, as imagens  distorcem , assim como as palavras que o meu amigo pronuncia. Chego a minha casa e aviso minha mulher que estou morrendo. Ela chama a vizinha e me levam ao pronto socorro da santa casa. Enfermeiros trazem uma cadeira de rodas na qual eu me sento e me conduzem ao atendimento. Colocam-me sobre uma maca, cercado por mais dois ou três doentes. Tiram meus  sapatos, tiram minha blusa, a correntinha do pescoço com o crucifixo pendurado. O médico examina, colocam um enorme comprimido sobre minha língua, aplicam injeções. Uma moça conecta-me eletrodos e realiza um eletrocardiograma. Um enfermeiro chega próximo de mim e diz que está orando para me salvar. Dai ouço o médico ao telefone: -paciente de 50 anos, preciso da sala do centro cirúrgico com urgência. Uma leve pausa...um  silêncio . Dois homens se aproximam e conduzem minha maca pelo corredor afora...Passo por salas cheias de gente que em observam. De repente vejo o céu azul, é me lembro que aquela é uma manhã ensolarada de maio.. a maca e enfiada numa ambulância. O veículo segue...Anda uns cinco minutos e depois para. Tiram a maca e novamente eu vejo o céu azul. Depois um enorme corredor e o acesso a uma sala onde cerca de cinco pessoas me aguardam, com suas máscaras. Conectam-me aparelhos, ouço apitos...tiram minha roupa...estou completamente nu. O médico me examina...sinto uma picada na coxa... imagens surgem numa tela...falam  uma linguagem  que eu não conheço...De vez em quando me pergunta: - tudo bem seu Paulo ? e eu respondo que sim. Me dá explicações...Ja detectamos o seu problema, agora vamos resolvê-lo. Ouço um leve apito...e tudo some...por alguns segundos eu morri. De repente retomo os sentidos....todos estão me olhando...me perguntam se eu estou bem e saem da sala. Uma única mulher fica junto a mim e me explica os detalhes da ocorrência e do procedimento... a primeira imagem, uma importante veia obstruída...Depois a imagem pós procedimento...o sangue fluindo normalmente. Me avisa que eu tinha sido salvo.. explica porque eu me mantive vivo. Mostra o stendi (uma molinha) que havia sido colocada para desobstruir  a veia.  Conduzem a maca e me levam para a UTI, onde me colocam ao lado de uma senhora idosa que chora e lamenta sem parar...Ali eu passo um bom tempo, até que o meu amor entra...Traz um sorriso triste nos lábios e toca meu rosto...Conta-me que  quando  lhe entregaram os meus pertences  ela pensou que eu houvesse morrido...Peço a ela para ligar para minha filha e meus irmãos...Ela fica um tempo comigo e vai embora. Tenho um aparelho de oxigênio no nariz e eletrodos conectados aos meus dedos e ao meu peito...De vez em quando soam apitos e uma enfermeira corre ao meu lado...Anoitece...percebo que já são altas horas...Um médico e uma enfermeira sentados passam a noite ao meu lado falando de coisas banais... da viagem das férias...do comportamento do filho...A mulher idosa , fala e chora e noite flui...

No dia seguinte sou despertado pela presença da minha filha que me abraça e me aperta a mão...Depois é minha enteada que entra e manifesta um sentimento que jamais imaginava que ela sentisse por mim...Era importante que eu permanecesse vivo.

Passaram-se mais cinco dias e eu recebi alta...antes tive uma séria complicação pulmonar resolvida...Minha mulher me acompanhou na saída...Sai andando e tomamos um taxi.. o rádio estava ligado e Zé Ramalho cantava Chão de Giz...” No mais, estou indo embora baby...” Desde então essa música virou o hino da minha vida...

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